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Cafeteria de SP lança café premiado por R$ 128 a xícara; vale a pena?

Grãos da variedade geisha, do Panamá, alcançam valores exorbitantes em leilões

Publicada em 14/06/2023 as 14:38h por David Lucena - 9 visualizações

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Café sendo preparado no Pato Rei, em São Paulo  (Foto: Ricardo Dangelo/Divulgação)

A cafeteria Pato Rei, com duas unidades em São Paulo, lança três cafés coados da aclamada variedade geisha, sendo que o mais caro deles custará R$ 128,00 por xícara.

Trata-se de um grão premiado, cultivado na tradicional região cafeeira de Boquete, no Panamá, a 1.650 metros de altitude, em uma área sombreada, cercada por floresta nativa. A plantação é orgânica e biodinâmica, e os frutos são colhidos manualmente e fermentados com levedura selvagem.

A cafeteria servirá apenas 30 xícaras deste café –as doses serão todas numeradas. Cada uma tem cerca de 130 ml. As bebidas estão disponíveis a partir desta quarta-feira (14).

Café sendo coado em um coador branco
Café sendo preparado no Pato Rei, em São Paulo - Ricardo Dangelo/Divulgação

Quem pagar a bagatela deve esperar um café com aroma floral e notas de mel de flor de laranjeira, maracujá azedo, melão cantaloupe e flor de café. A medida que esfria, revela sabores como graviola, bala de uva verde e capim limão.

Segundo o sócio e responsável pelos cafés do Pato Rei, Tiago de Mello, os grãos verdes foram adquiridos por US$ 600 (aproximadamente R$ 3.000 na cotação atual) por quilo, e ainda há uma perda de 20% do peso no processo de torra.

Apesar de cobrar um valor tão alto, a fazenda não tem dificuldade em vender os grãos. Pelo contrário, esses premiados produtores panamenhos até escolhem para quem vendem. Mello diz que só conseguiu adquiri-los porque tem um amigo em comum com o fazendeiro.

POR QUE É TÃO CARO?

Mas o que explica um valor tão alto por um café? E mais: vale a pena desembolsar R$ 128,00 em uma única xícara de coado?

O geisha (ou gesha) é uma variedade de café arábica que surgiu no vilarejo de Geisha, na Etiópia –não tem, portanto, nenhuma relação com as gueixas da cultura japonesa.

Foi no Panamá, porém, que esta variedade de fato encontrou solo fértil e alcançou uma qualidade reconhecida mundialmente.

Hoje, é uma das variedades mais valorizadas no planeta. Geralmente produz um café muito aromático, com notas florais e acidez balanceada.

Por isso, pode alcançar valores bastante elevados no mercado de cafés especiais –é comum eles serem arrematados em leilões disputados.

Essa valorização do geisha panamenho começou no início dos anos 2000 e tem crescido desde então.

Em 2022, um microlote produzido pela fazenda Lamastus Family Estates, no Panamá, foi vendido em um leilão pelo impressionante preço de US$ 6.034 (aproximadamente R$ 30 mil) por libra –ou US$ 13.302 (cerca de R$ 65 mil) por quilo.

No início deste ano, a cafeteria Proud Mary, com unidades na Austrália e nos Estados Unidos, chamou atenção ao cobrar US$ 150 (mais de R$ 700,00) por uma xícara de café –um geisha panamenho no qual eles haviam pago mais de US$ 4 mil (R$ 20 mil) o quilo.

Não à toa, os geishas são figurinhas carimbadas em competições de alto nível, como o World Barista Championship (WBC), que elege anualmente o melhor profissional no preparo de cafés do mundo, e o World Brewers Cup (WBrC), este focado nos coados.

Inclusive, dos nove vencedores do WBrC entre 2011 e 2019, sete conquistaram o título preparando cafés da variedade geisha.

PREÇOS EXORBITANTES SÃO CRITICADOS

Os altíssimos valores que esses cafés atingiram têm gerado discussões no meio. Por um lado, reconhece-se a importância de remunerar bem os produtores por grãos excepcionais –sobretudo porque os produtores desses cafés normalmente são de locais menos desenvolvidos, como países da América Central e da África.

Por outro lado, critica-se o fato de ser um produto excludente, já que poucas pessoas poderiam pagar valores tão altos por uma xícara.

Os defensores desses grãos, contudo, fazem um paralelo com o mercado de vinhos: se existem garrafas tão caras, só acessíveis para pouquíssimos apreciadores, por que o mesmo não deveria se aplicar aos cafés?

A supervalorização tem gerado também um problema nas competições, já que os preços cobrados nesses geishas acabam criando um desnível entre os competidores que podem pagar caro por grãos tão exclusivos e aqueles que não dispõem de tantos recursos. Por isso, tem sido cogitada a criação de um teto de gastos para participar dessas disputas.

Alguns especialistas criticam ainda a atenção exagerada dada a uma única variedade e falam que é preciso analisar todo o contexto (manejo, clima, processamento) para se compreender a qualidade e o preço de um café.

Além disso, dizem, há variedades que produzem cafés mais interessantes e complexos do que alguns dos caríssimos geishas.

AFINAL, VALE A PENA?

Seja como for, os geishas bem cultivados da América Central são, de fato, cafés marcantes e sempre chamam atenção, com seus aromas florais e sabores exóticos.

Para os entusiastas que já têm algum conhecimento na degustação de cafés e podem pagar valores tão elevados em uma única bebida, pode ser uma experiência interessante.

Para quem não puder ou não estiver disposto a pagar R$ 128 por uma xícara, o Pato Rei lançará outros dois geishas panamenhos a preços menos elevados: R$ 88 e R$ 64 –serão apenas 15 doses de cada um deles.

Todos os três serão preparados no coador de acrílico japonês Origami, que usa um filtro de papel.

Os novos cafés do Pato Rei

Confira os três grãos panamenhos e os preços

  • Misty Mountain (Longboard) lote MM10 “maracujá”

    Aroma: buquê floral; sabor: mel de flor de laranjeira, maracujá azedo, melão cantaloupe, flor de café; aftertaste: flor de café e lichia; esfriando: graviola, bala de uva verde, capim limão; método: coado no Origami; preço: R$ 128 por xícara

  • Janson Coffee lote 194 “papaia”

    Aroma: floral, mamão papaia; sabor: melão, nectarina; aftertaste: mamão papaia; esfriando: manga verde; método: coado no Origami; preço: R$ 88 por xícara

  • Janson Coffee lote 130-206 “maçã do amor”

    Aroma: floral; sabor: maçã, caramelo, jasmim; aftertaste: jasmim; esfriando: maçã verde; método: coado no Origami; preço: R$ 64 por xícara

No concurso Best of Panama, que elege os melhores cafés do país considerado o paraíso dos geishas, a fazenda Misty Mountain, da Longboard Specialty Coffee, ficou em quarto lugar na categoria geisha lavado. É exatamente desta fazenda que vêm os grãos que o Pato Rei servirá por R$ 128.

Já os outros dois são da Janson Coffee, produtor que conseguiu o quinto lugar na categoria geisha lavado e o terceiro lugar na categoria geisha natural da mesma premiação.

Os três cafés estarão disponíveis nas duas unidades do Pato Rei –uma em Pinheiros e a outra na Berrini–, assim como os outros grãos que a cafeteria já serve regularmente.

Entre os demais cafés está o chamado "espresso mais que deuso", que tem notas de uva, maçã e muita doçura. Foi com este café que a barista Taina Luna participou do Campeonato Brasileiro de Baristas –ela foi eliminada por estourar o tempo, mas o café tinha recebido uma das notas mais altas. O ótimo espresso custa R$ 64, mas pode ser extraído em duas xícaras de 28 ml, cada.




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